Quem não se lembra do caso da australiana Jo Gilchrist
que ficou paraplégica após ser contaminada por uma bactéria proveniente do
pincel de maquiagem da amiga? O caso aconteceu no começo do ano e despertou uma
importante discussão no universo da maquiagem: a biossegurança.
Em nossa pele vive milhares de bactérias, principalmente
no rosto. Mas esses microorganismos não são os vilões. Eles ajudam na
manutenção da integridade da pele, e nos defende de outros organismos.
Mas, por que então a australiana chegou a perder os movimentos? Nossa flora
bacteriana, quando saudável, não representa nenhum mal, mas pode representar
desequilíbrio em outra pessoa. Por esse motivo que, enquanto a amiga de Jo
Gilchrist estava com alergia no rosto, ela, desenvolveu uma infecção que
acarretou em um sério problema.
Com a maquiagem a regra deve ser levada ao pé da letra: os produtos são
desenvolvidos para uso pessoal. Já em casos onde há uso coletivo, como na
profissão da maquiagem, devem ser seguidas normas de biossegurança, já que
pincéis de diversos tipos podem, por ação mecânica, promover o arrasto de
células bacterianas ou fúngicas e produzir um efeito de contaminação cruzada,
de cliente para cliente.
Kátia com a equipe de pesquisa
|
Pesquisa inédita
Teoricamente, os profissionais da beleza devem
obedecer às normas sanitárias, efetuando a esterilização dos utensílios
utilizados em seus clientes. Porém, até hoje, não havia nenhuma pesquisa
que trouxesse uma metodologia de higienização compatível com as exigências do
cumprimento das normas de biossegurança. A maquiadora Kátia Freire, ganhadora
do 18° Prêmio Avon na categoria Publicidade, tomou a iniciativa de liderar
um estudo* sobre o assunto em parceria com a Universidade Federal da
Paraíba.
“Por também ser profissional da área de saúde [Kátia
é formada em fisioterapia] sempre prezei muito pela biossegurança. Nós
trabalhamos em um meio onde existe riscos e que as pessoas gostam de criar
receitas sem nenhum fundamento. E eu não me contentei com isso e fiquei com
essa dúvida na cabeça e isso deu brecha para essa pesquisa. Os maquiadores,
além de embelezar as pessoas, precisam também motivar as pesquisas, para que a
nossa profissão seja segurada e fundamentada cientificamente”, contou.
Vamos à pesquisa: as coletas feitas nas cerdas dos
pincéis, permitiram determinar a eficiência dos diferentes métodos empregados
na limpeza. Participaram do teste 5 tipos de pincéis: para pó, blush, base,
sombra, precisão para olhos e lábios.
Foi utilizado um tipo de lavagem para cada grupo com diversas substâncias no mercado de limpeza em geral. Todos os testes foram feitos em imersão e borrifado.
Nesse estudo, os únicos métodos 100% eficientes tanto para fungos quanto para bactérias foram: álcool etílico 70% (borrifado) e água sanitária diluída em 10% (imersão). Tendo em vista que as cerdas dos pincéis podem ser danificadas pela água sanitária, o que reduziria seu tempo de vida útil, os pesquisadores recomendam uma combinação matadora: lavagem com sabão antibacteriano e álcool 70%. A mistura apresenta eficácia na limpeza dos pincéis sem causar tantos danos às cerdas.
4 passos para um pincel limpo e sem bactérias:
Kátia explica em um passo a passo a forma ideal de lavar
seus pincéis. Antes de tudo você deve colocar luvas. Elas irão proteger você de
se contaminar e facilita o esfregaço do pincel. Acompanhe:
1. Molhe o pincel na água, aplique um sabão bactericida
neles e esfregue bem. Continue esfregando e enxaguando até que a espuma esteja
complemente branca. Repita a operação pelo menos duas vezes.
2. Esfregue o cabo com um bucha e sabão. Sim, o cabo
também fica sujo e se contamina. Não tenha medo de lavá-los.
3. Retire o excesso de água com um papel toalha ou
higiênico e borrife álcool a 70% nas cerdas e no cabo. Esse álcool evapora
e não deixa riscos para a pele.
4. Coloque os pincéis lavados em uma superfície com papel
toalha ou sobre uma tolha limpa em lugar arejado ou com luz solar, de
preferência, para secarem com mais segurança.
FUJA DELES:
Condicionador
É extremamente perigoso utilizar condicionador ou qualquer produto amaciante nas cerdas. “Toda forma oleosa ajuda na fixação de bactérias e fungos, mesmo após o enxágue, pois ficam os resquícios, por conta da oleosidade que não sai 100% com água. Além de propiciar para um aumento na umidade dos produtos, pode facilitar o crescimento bacteriano”, conta Kátia.
É extremamente perigoso utilizar condicionador ou qualquer produto amaciante nas cerdas. “Toda forma oleosa ajuda na fixação de bactérias e fungos, mesmo após o enxágue, pois ficam os resquícios, por conta da oleosidade que não sai 100% com água. Além de propiciar para um aumento na umidade dos produtos, pode facilitar o crescimento bacteriano”, conta Kátia.
Shampoo de bebê
É muito normal achar tutoriais que ensinam a limpar os pincéis com esses xampus infantis, mas Kátia logo avisa que também é um erro clássico: “Não há embasamento científico algum para essa prática. Qual a lógica de fazer limpeza de um material que se contamina com bactérias e fungos e lavar com xampu para bebê? Que função bactericida possui esse tipo de produto?”, questiona.
É muito normal achar tutoriais que ensinam a limpar os pincéis com esses xampus infantis, mas Kátia logo avisa que também é um erro clássico: “Não há embasamento científico algum para essa prática. Qual a lógica de fazer limpeza de um material que se contamina com bactérias e fungos e lavar com xampu para bebê? Que função bactericida possui esse tipo de produto?”, questiona.
DICA DA EXPERT
1 - Esteja com as mãos limpas toda vez que for atender
alguém. A lavagem das mãos é de extrema necessidade, consiste no primeiro passo
para começarmos a praticar a biossegurança. "Uma ótima dica, que podemos
usar em seguida da lavagem, seria um álcool a 70% para desinfetá-las".
2 - "Higienizar a pele dos clientes antes da
maquiagem já ajuda bastante na redução de bactérias e contaminação, afinal,
pincéis sujos podem servir como meio de cultura para vírus, fungos e bactérias.
Fique atento aos sinais como irritações na pele, alterações nos olhos e nos
lábios, nariz escorrendo, acne purulenta, feridas abertas, entre outras
alterações".
*O estudo piloto foi realizado no Laboratório de Biologia
Bucal (LABIAL) da Universidade Federal da Paraíba pela equipe formada pelo
prof. Dr. Fábio Correia Sampaio, Dr. Allan Reis, a especialista e maquiadora
Kátia Freire, a doutoranda Patrícia Freitas e a acadêmica Carla Alves.
Fonte: Portal da Maquiagem
por Kátia Freire